A relação do ser humano com a música existe há muito tempo, e foi mudando à medida em que este desenvolvia novos meios de produzir sons e, portanto, novos estilos musicais. A natureza teve uma participação fundamental neste laço, e, podemos desfrutar, ainda hoje, de músicas ricas, cheias de fundamento, devido à sensibilidade de alguns músicos de silenciar para ouvir os sons da natureza. Porém, esta nova geração, que nasceu em meio à tantas agitações, deu uma nova forma à música, esta, que agora só tende a se desenvolver em relação a si mesma.
Quando observamos determinado ambiente através da dimensão do som, estamos analisando sua paisagem sonora, que é o conjunto de sons que compõem o ambiente. Estes dividem-se em três tipos de paisagem: a geofonia (sons não biológicos que acontecem em qualquer hábitat, como o som do mar, rios, ventos, etc.), a biofonia (todos os sons produzidos por organismos vivos de determinado hábitat) e, a terceira são todos os sons que nós, humanos, podemos gerar, chamados de antrofonia. Alguns deles podem ser controlados, como a música e o teatro, mas a maioria é caótico e incoerente, o que podemos chamar de barulho. Muito tempo atrás, a humanidade era cercada somente de sons gerados pela natureza. Deste modo, nossa audição era nosso sentido de alerta. Porém, com a industrialização e os avanços tecnológicos, passamos a produzir tanto barulho, suprimindo os sons do ambiente, que a nossa relação com os sons ao nosso redor passou a ser inconsciente. Hoje dependemos demais da nossa visão e pouco compreendemos as influências dos sons na nossa vida.
O músico e ecologista Bernie Krause dedicou cerca de 45 anos da sua vida a gravar os sons da natureza. Hoje é um dos maiores especialistas em paisagens sonoras e um dos grandes contribuintes na a criação da disciplina Ecologia Acústica. No seu livro "A Grande Orquestra da Natureza", Krause explica que os sons gerados no ambiente natural (geofonia e biofonia) estão em uma constante harmonia, pois cada organismo define seu território acústico no ambiente, de forma que todos podem comunicar-se entre si e juntos com os sons do ambiente geram uma grande orquestra. Porém, quando exploramos estes ambientes naturais, além das diversas outras formas de destruição, trouxemos a poluição sonora, ou seja, os barulhos que produzimos passou a impedir que os animais ouvissem uns aos outros, quebrando a harmonia da grande orquestra e prejudicando o funcionamento do ambiente, consequentemente, gerando um desequilíbrio ambiental.
A música, que vem se desenvolvendo em meio à tanto barulho, tornou-se, com o tempo, um tanto autorreferencial e, é esta nova "fórmula musical" que está se espalhando e, aos poucos, dominando a nossa sociedade. Não chega nem perto da complexidade e originalidade que podemos ouvir nas paisagens sonoras naturais muito por causa do nosso afastamento do ambiente natural. Se continuarmos a explorar o nosso planeta nesse ritmo tão destrutivo, poderemos estar acabando com as últimas chances de ouvir estas músicas naturais, portanto, tornando cada vez menores as possibilidades de continuar disseminando a música saudável nos ouvidos das gerações que estão por vir.
"se uma fotografia vale mais que 1000 palavras, uma paisagem sonora vale mais que 1000 fotografias". Bernie Krause
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